Política
Por que as pesquisas de opinião sobre Bolsonaro oscilam entre si?
Pesquisas de opinião sobre a popularidade de Bolsonaro tem apresentado oscilações. Ainda que pequenas entre si, isso ocorre devido aos diferentes tipos de métodos de coleta de dados utilizados pelos Institutos, mas também diz respeito à própria instabilidade do governo.
As pesquisas de opinião atuam como um termômetro de desempenho político. Elas apresentam também elementos sociológicos significativos para entendermos como a realidade está sendo apreendida pelo conjunto da população. As pesquisas sobre o governo Bolsonaro têm apresentado bastante oscilação em curtos intervalos de tempo entre bom e ruim nas avaliações.
Segundo pesquisa do Ibope, realizada entre 17 e 20 de setembro a pedido da Confederação Nacional de Indústria (CNI), com 2.000 entrevistados/as, 40% considera ótimo ou bom o desempenho de Bolsonaro e 29% considera ruim ou péssimo.
Já pesquisa mais recente realizada entre 30 de setembro e 5 de outubro, pela Revista Fórum em parceria com a Offerwise, demonstra que 36,5% considera o governo ruim ou péssimo e 34,9% considera ótimo ou bom.
Outra pesquisa, anterior a essas, realizada nos dias 11 e 12 de agosto pela Datafolha, demonstrou que, naquele período, 37% dos(as) entrevistados(as) considerava o governo ótimo ou bom e 34% considerava ruim ou péssimo.
As flutuações em um pequeno intervalo de tempo refletem a instabilidade do governo de Jair Bolsonaro e estão relacionadas a falta de propostas mais concretas para lidar com a crise econômica que foi acentuada pela pandemia de covid-19. Mas também dizem respeito às metodologias utilizadas e ao universo de entrevistados.
Os métodos de coleta de dados das pesquisas de opinião podem ser presencial domiciliar ou presencial de ponto de fluxo, remoto com acesso ao entrevistado pelo telefone com entrevistador(a) humano ou até mesmo com robô ou através de pesquisas online pelo acesso a questionários e o de inferência que é pelo acesso das redes sociais das pessoas para identificar o posicionamento ideológico.
Segundo João Meira, diretor do Instituto de Pesquisa Vox Populi e conselheiro da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), “quando você compara uma pesquisa presencial com uma pesquisa telefônica, você está cobrindo universos ligeiramente diferentes porque nem todos têm telefone, por exemplo. Então, essas flutuações pequenas podem estar refletindo essas variedades de métodos de coleta e também os aspectos mais propriamente estatísticos que tem a ver com a margem de erro”.
Além disso, ainda segundo João, alguns elementos precisam ser trabalhados no que diz respeito à popularidade do presidente da República, sendo eles “o componente da normalização do Bolsonaro, do ponto de vista da operação da política, mas que ainda está em curso, ainda tem umas arestas bastante complicadas, principalmente na área de meio-ambiente e relações exteriores, em segundo lugar as medidas que serviram para mitigar o impacto econômico da pandemia, em terceiro lugar esse aspecto da dimensão mitológica do Bolsonaro e, por último, a falta de um contra-discurso bem articulado”.
Por conta dessas oscilações questionamentos são feitas, por vezes, sobre a validade das pesquisas de opinião. João, que atualmente faz parte do Conselho Superior da ABEP, afirma que a dinâmica das pesquisas, o tempo que ela precisa ser elaborada e o tempo curto para concatenar as informações que delas resultam, podem abrir brechas para erros ou para a não captação de determinadas informações. Reconhece também que a maneira como as perguntas são formuladas podem encobrir ou simplesmente apresentar resultados bastante diferentes de outras pesquisas com outras perguntas sobre uma mesma figura política.
Um exemplo, dado pelo próprio entrevistado, foi o de uma pesquisa realizada no dia 27 de agosto, por telefone, pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE), feita com o eleitorado do Rio de Janeiro para as eleições municipais do pleito atual. A pesquisa apresenta dois cenários: no primeiro é perguntado apenas quem o/a eleitor/a apoia ou votaria, apresentando as opções de candidatos/as, e, no segundo, a pergunta é feita apontando quais são as lideranças políticas que apoiam aquele/a candidato. O resultado foi diferente. Na primeira situação, Eduardo Paes (DEM) liderou com 25% das intenções de voto e na segunda Marcelo Crivella (Republicanos) liderou com 22% das intenções de voto. Os apoiadores de Paes e Crivella, indicados na pergunta, são Rodrigo Maia e Jair Bolsonaro, respectivamente.
Segundo Meira, “a pesquisa, como uma ciência humana está sujeita a determinadas falhas”. No entanto, “essas empresas, como é o caso da Vox Populi, que está há 40 anos na atividade, como o Datafolha que é mais ou menos da mesma idade, o Ibope que tem mais de 60 anos – e tem empresas de 10, 15 e 20 anos trabalhando na área de pesquisa de opinião – essas empresas vivem de credibilidade. A credibilidade dessas empresas é tudo pra elas. Então, quando a gente é perseguido, acusado e, principalmente, quando é judicializado o trabalho da gente, a nossa credibilidade sofre muito com isso, então a gente faz todo o possível para evitar que tenha esse tipo de problema”.
Por isso, quando as pesquisas são encomendadas, o código de ética da ABEP defende a autonomia dos institutos para a elaboração dos questionários, visto que os/as pesquisadores/as seguem os requisitos exigidos por metodologias de pesquisa, tabulação e análise de dados. São essas pessoas que, a partir de sua experiência na área de pesquisa de opinião, vão saber quais caminhos seguir para se obter um nível considerável de objetividade a fim de que as margens de erro sejam as menores possíveis. Por outro lado, é importante que as interpretações sobre as pesquisas de opinião veiculadas pela imprensa sejam também objetivas e contextualizadas.
Para o comunicólogo Fábio Cruz, “muitas vezes nós nos deparamos com a veiculação de informações superficiais e/ou distorcidas, com carência de substancialidade quando, por exemplo, as eleições são a pauta. É, portanto, neste cenário que considerável parte dos veículos de comunicação de massa fomentam o pensamento rápido e miserável, pobre e acrítico, ao mesmo tempo que – é sempre salutar lembrar – protegem determinadas forças da sociedade”. Neste sentido, acrescenta, “ter responsabilidade social no ato de informar não significaria engajar-se nos movimentos sociais levantando a bandeira de suas causas e fazendo um trabalho panfletário. Tampouco significaria manter-se ao lado das forças hegemônicas da sociedade. Significa trânsito e conduta livres e objetivas, pois o que está em jogo é o serviço prestado ao cidadão”.
Apesar das pesquisas de opinião servirem muitas vezes como um instrumento de validação de uma determinada figura política ou de um governo, de acordo com Elis Radmann, presidente do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO) de Porto Alegre, estudos realizados pelo IPO indicam que “uma média de 5% da população declara que são influenciados ou decidem com base nas pesquisas de opinião. São pessoas que não se interessam por política e acabam “tentando” diminuir o custo ou a responsabilidade de sua decisão, indo com a maioria”.
Ainda que as pesquisas apresentem metodologias diferentes, elas apontam para índices de aprovação e reprovação do governo Bolsonaro em níveis estatísticos muito semelhantes. Isto é, não há uma grande oscilação entre os resultados. Mas algo curioso permanece nas pesquisas que foram citadas. Em todas elas, há uma taxa representativa de apoio ao presidente ao mesmo tempo em que há uma reprovação massiva de políticas mais específicas como, para citar alguns exemplos, meio ambiente, impostos, educação, combate à fome e à pobreza, combate ao desemprego e outras.
Para Elis, isso ocorre por conta de uma estratégia de marketing de Bolsonaro somado a uma negação da política como base explicativa. “Veja, o Governo Bolsonaro é habilidoso em ativar o marketing de guerra e ter o inimigo sempre presente em sua narrativa. Sempre há um inimigo e ele tem várias faces ou está em vários “espectros” de poder. Quem nega a política está decepcionado e quer um culpado. O marketing de guerra mantém um culpado ativo e dá a sensação de que o Governo tenta proteger a população. Estamos falando de imagem! Estamos falando de percepção! Quando se avalia as entregas de forma objetiva, daí o marketing de guerra não funciona”, conclui a pesquisadora.
Edição: Rodrigo Chagas
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